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Decepção

Carolina correu. Parecia atormentada. Se jogou em sua piscina e ficou lá por vários minutos. Não acreditava como podia ter sido traída e abandonada daquela forma. No tempo que passou embaixo da água, refletiu sobre tudo o que estava vivendo. Suas relações que nunca davam certo. Vinham vontades de não existir mais. Vinham vontades de ficar ali até não sentir mais sua existência. Ela se sentia menor, diminuída cada vez mais. Nada que fazia era reconhecido ou merecia um elogio que fosse. Ela estava muito destruída, ela sentia o peso do fracasso nas suas costas. Nunca correspondia a nenhuma expectativa. Ela tinha todos os motivos pra se sentir um pedaço de coisa nenhuma. Há uns dois meses vinha se sentindo muito feliz por ter encontrado alguém que a amava. Ela acreditou nessa pessoa como nunca acreditou em outra, depositou confiança, felicidade e tantas outras coisas no relacionamento. Ela era mais feliz. Ela era, finalmente, feliz. Tantos momentos bonitos. Tantas situações engraçadas, tantas histórias pra contar. Ela tinha um par, um par perfeito. Mas não demorou demais para vir a decepção. Carolina foi fazer uma surpresa para o seu amor e contar uma ótima novidade. Ao longe viu que essa pessoa estava acompanhada de um homem, pensou que fossem irmãos, mas não era bem isso. O beijo que viu logo em seguida acabou com todo o entusiasmo de Carolina. Ela não aguentou, não iria mais contar que havia conseguido um bom emprego. Não queria mais dividir nenhuma gota de sua felicidade com aquela pessoa. Estava com dúvidas, angustiada. Foi a maior decepção de toda a sua vida. Carolina começou a chorar e Jéssica a viu. Tentou argumentar, tentou se explicar, mas Carolina não queria mais saber de nada, não queria ouvir. Carolina correu. Parecia atormentada. Se jogou em sua piscina e ficou lá por vários minutos. A piscina começou a ficar vermelha e não era a tinta que Carolina usou para tingir o cabelo. Não, não era.

Passando Selos, Volume 6

Lentamente Até Que...

Caminhava tranquilo no centro da cidade. Os carros passavam e eu não percebia. Pessoas me olhavam e se perguntavam o que acontecia. Alguns tentaram me consolar, alguns tentaram conversar, sem nem saber o que acontecia comigo. As pessoas não são tão más nesse mundo. Mas eu não queria ouvir nada e segui. Caminhando em meio a todo aquele alvoroço. Eu era uma contradição no meio de tanta correria, no meio de tanta pressa.
Mas eu não queria ser pressa, eu queria ser lentidão, eu queria ser calmaria. Afinal, naquele dia eu podia ser tudo isso. Eu podia deixar o tempo passar sem me preocupar demais com o que viesse acontecer. Alguns não recomendariam que eu caminhasse tão distraído naquele lugar, alguns iriam tentar me acordar, ou sabe-se lá o que mais.
Eu não estava me importando. Entrei em todas as lojas, visitei todas as vitrines e nada comprei. Eu só queria passar o tempo. Eu só queria ser lerdo. Sim, eu me desejei lerdo aquele dia. Descansei, caminhei, entrei em várias lojas e gastava imenso tempo em cada uma delas. Sentei umas duas vezes pra comer alguma coisa e continuei meu passeio. Não aguentava mais andar, quando decidi voltar pra casa. Comecei a me dirigir à parada do ônibus. Mas, no meio do caminho, algo inesperado me fez acordar, algo que me tirou de toda aquela lentidão. Um susto muito grande. Eu atravessava uma rua e "acordei" ao ouvir umas palavras como se fossem ditas aos berros somente em meus ouvidos. Inicialmente eu não entendi, mas ela fez questão de repetir ainda mais alto:

"Quarenta nego bom é um reaaal!"

A Rosa Vermelha

Marcinha vagava pelas ruas como um fantasma. Ela sentia que tudo que fazia não dava certo, não dava em nada e não tinha como se sentir feliz com tudo isso que acontecia. Marcinha, depois de muito tempo vagando, parou na frente de uma casa enorme. Olhou o jardim, muitas plantas, muitos espinhos e lá no final de tudo uma rosa linda, vermelha, que era o destaque em meio a tanta coisa que tornava aquele lugar nada atrativo. Foi a primeira vez que Marcinha viu além. Foi a primeira vez que ela acordou pra o fato de que há coisas muito mais importantes do que os espinhos. Não procurou entrar no jardim. Mas continou seu caminho pensativa e um pouco renovada. Um pouco porque ela precisava sentir aquilo tudo nela mesma, ela precisava encontrar a rosa vermelha na sua vida. Sabendo que seria difícil, buscou apoios. Encontrou alguns que foram falsos apoios. Outros que não faziam muita diferença e outro que faziam toda a diferença nessa trajetória. Marcinha, depois de muito tempo, encontrou um botão de rosa. Ela cuidou daquele botão com todo carinho para que não morresse. Quando desabrochou era uma rosa amarela, ela se sentiu bem, a flor lhe trouxe coisas boas, muitas alegrias, mais conforto, mas acontece que ainda não era a vermelha. E era essa rosa vermelha que Marcinha estava buscando. Continuando o caminho, perdeu alguns de seus apoios mais importantes. Ficou triste, profundamente triste e passou a não acreditar que aquela rosa vermelha existisse de verdade. Duvidou, angustiou-se, encontrou muitas outras rosas amarelas. Cansada de tudo, resolveu que dormir seria bom. E dormiu. Sonhou com seu paraíso de rosas vermelhas. Nesse sonho ela encontrava um jardim repleto delas. Acordou. Não, ela não havia encontrado a tal rosa vermelha, mas renovou as esperanças para continuar essa busca. Ela precisava e conseguiria. Não saberia como, quando, ou com quem. Mas conseguiria com certeza, ela esta confiante.

Cansada, triste e inconsolável. Não tinha como Leandra estar de outro jeito. Permaneceu triste e calada por alguns dias. Mal comia, não brincava e perdeu o sorriso que tão normalmente habitava o seu rosto. Será que aquela menina nunca mais iria sorrir? Dona Dina estava muito preocupada com a neta, mas também sabia que a menina não poderia demonstrar estar feliz se não estivesse. Acima de tudo, Leandra era um menina verdadeira.
Depois de um tempo sem querer falar, sem querer demonstrar que como se sentia, Leandra chegou perto de sua avó e disse:
- Vovó.
- Oi, minha filha. Que bom que você falou comigo, minha princesa. Você já está se sentindo melhor?
- Tô não, vovó. Mas eu queria lhe pedir uma coisa.
- Diga.
- Quero voltar lá pra casa. Eu já devia estar estudando.
- Minha filha, eu não posso deixar tudo aqui pra lhe levar hoje. Não que eu tenha muitos amigos aqui, mas a vida vida foi todinha aqui.
- Vovó, a senhora foi feliz aqui?
- Fui, minha filha. Eu fui muito feliz, sofri também, mas fui muito feliz.
- Eu também. Mas preciso voltar ao colégio vovó.
- E quem vai ficar com você, Leandra?
- Não sei. Talvez a mãe de Carlinha deixe eu ficar lá. Ela era a melhor amiga de mainha.
- É minha filha, você precisa estudar. Eu vou falar com essa mulher. Você tem o telefone de lá? Eu explico toda a situação pra ela. Mas não acho isso certo.
- Tenho sim.

Tudo que Leandra mais queria era sair daquele lugar, afinal, ela não tinha mais muitas lembranças boas de lá. Precisava conversar com alguém, nada melhor que a sua melhor amiga. Apesar de gostar da sua avó, não se sentia à vontade.

- Pronto, meu amor. Ela vai ficar com você.
- Brigada, vó.
- Agora vá se arrumar. Ela vem buscar você ainda hoje.
- Tá bem. Carlinha vem?
- Vem sim.
- Que bom.

Dona Dina começou a chorar. Ela não sabia o que a menina poderia passar. Ela não sabia como seria tratada, mas sabia que ela precisava sair daquele clima tão passado que viveu nos últimos dias. Depois de um tempo, chegou o carro de Raquel. Carla desceu e deu um forte abraço na sua amiga.

- Lê, que saudade. Eu soube o que aconteceu, mas a gente vai te ajudar.
- Brigada, Carlinha. Oi, dona Raquel.
- Oi, meu bem. Eu tô com um pouquinho de pressa, vamos?
- Vamos sim. Vovó, eu amo a senhora.
- Eu também minha filha. Eu te amo demais.

As duas se abraçaram com força e com muita saudade. Leandra foi embora. Depois da viagem, Leandra foi até a sua casa buscar suas coisas. Abriu a porta e logo de cara viu o sofá vermelho. Parecia que ouvia sua mãe dizer "Tira o pé do sofá, Leandra." A primeira lágrima caiu. Carla segurou a sua mão. Olhou a sala com um peso triste nos olhos e lembrou de todos os domingos em que se sentava com seus pais no sofá pra assistir a algum filme e comer pipoca com suco de acerola. As lágrimas se tornaram mais intensas. Deu uma olhada na cozinha, lembrou de sua mãe cozinhando. Entrou no escritório e lembrou-se do pai trabalhando. Subiu as escadas e foi ao seu quarto. Lembrou de sua mãe contando histórias pra ela dormir e de seu pai indo lhe dar o beijo de boa noite quando chegava do trabalho. Lembrou que não dormia antes de receber esse beijo e seu pai sempre achava que ela já estava dormindo. Chegou a esboçar um sorriso. Passou um tempo no seu quarto e com a ajuda de Carla, arrumou as suas coisas. Lembrou de seu pai indo acordá-la na hora de ir pra a escola. Enxugou as lágrimas e saiu. Tentou não entrar, mas não consegui e foi para o quarto de seus pais. Caiu e chorou tanto que não tinha forças pra se levantar novamente. Carla olhou pra a amiga e disse:

- Lê, a gente tá aqui pra te ajudar. Vem com a gente. Mainha disse que a gente pode ser sua família agora.
Carla começou a chorar junto com Leandra.
- Eles não deviam ter ido. Eles tinham prometido, Carlinha...
Elas se abraçaram.

Gritei

Gritei
Porque não aprendi a guardar sofrimento.

Um grito solto é uma oportunidade de crescer.
Um grito solto é o que mostra minhas vontades.
Foi um grito que me fez melhor.
Foi ele que me aliviou e que me fez um tiquinho mais leve.

Gritei
E descobri que tudo era nada de importante.
Descobri o que era realmente importante.
Descobri onde não havia importância.
Sem angústias, sem medos, sem barreiras.

Quebrei cristais, taças, crenças, tabus e algumas opiniões.

Um Amigo Pra Sempre

Roberto tinha seis anos de idade quando conheceu Marquinhos. Os dois iam juntos à escola sempre. Marquinhos dormia, quase todos os dias, na casa de Roberto, conversavam e riam até tarde. Era daqueles amigos pra toda hora mesmo, aliás Marquinhos era o melhor amigo de Roberto. Quando ele se apaixonou pela primeira vez, a primeira pessoa pra quem contou foi Marquinhos. O amigão companheiro que tantos têm ou querem ter: era assim que Roberto percebia Marquinhos.
Viveram juntos por muito tempo e quase nunca brigavam, até que de uma hora pra outra Marquinhos sumiu. Roberto procurava por ele na escola, perto de sua casa, muitas vezes chamou por ele, mas não foi correspondido. Foi só aí que pôde perceber que Marquinhos era apenas um reflexo de tudo que ele desejava de bom em um amigo. Marquinhos era uma representação verdadeira de uma amizade. Agora Roberto saberia como encarar e estar seguro nas relações com seus novos amigos. Ele estava pronto. Foi aí que acabou o papel de Marquinhos, seu amigo imaginário.

Samba, Menina

Samba, menina.

Deixa essa música te embriagar.
Deixa esse som te levar pra vários lugares.
Mexe teu corpo, acaba com tudo que te deixa presa.
Mostra que tu és mais forte.
Mostra que teu ritmo é mais forte.
Não deixa que te parem.
Não pare.

Deixa a melodia te arrancar sorrisos.
Então sorri, menina.
Sorri sem medo de parecer ridícula.
Tu estás sambando.
Tu estás feliz.
Tu não és ridícula.

Entra no movimento.
Ele é parte de ti.
Não guarde alegria.
Jogue tudo de bom.
Mostre toda a alegria de ser feliz, menina.
Sambe, sambe, sambe.
E não perca esse sorriso, por favor.

Coloca teus braços nesse movimento.
Deixa esse olho continuar brilhando.
Assim como tu.
Coloca no teu corpo toda aquela razão de viver.
Tu és bela, menina.
Tua música, teu corpo, teu sorriso, teus olhos, teu movimento:
Tua alegria!

Samba, menina.
Samba.

Tive Uma Idéia

Tive uma idéia.
Levantei.
Busquei, abri gavetas.
Peguei papel, peguei lápis.
Escrevi.
Risquei.
Escrevi.
Escrevi.
Sonhei.
Escrevi.
Apaguei.
Escrevi.
Sonhei.

Li várias vezes.
Acreditei.

Reli e sonhei.
Acreditei.
Pensei, refleti.

Realizei e continuei acreditando.
Cresci. Crescemos.
Mudei.
Remodelei pensamentos, idéias e crenças.
Fui em frente.
Quase quebrei.
Reconstruí.
Venci.
E fiquei pronto pra realizar tudo do começo, se fosse preciso.

Tudo e Eu

Tava tudo preso.
Tava tudo parado.
Tava tudo assim.
E é tudo perdido que não trazia movimento.
Nem fortes, nem suaves.

Tudo tava paralisado, abandonado e acabado.

Não,
tava não.

Era eu.

Tudo se mexe.
Tudo dança.
Tudo pula.
Tudo grita alegrias para as cores.
E elas gritam de volta como que por reflexo.
Como que por espelho.

Tudo alegre, vibrante e colorido.

Não,
é tudo não.

Sou eu.

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