Motivos

Não consigo,

você faz duas, três,
quatro vezes.
Eu sempre entendo,
eu sempre aceito.

Aceito?
Bem, você acredita.
Mas no momento,
sei que já está tudo perdido.
E, quando sei que nada mais
será recuperado,
é que sei que posso fazer algo mais.

Não,
não acredito que seja o motivo.
Mas os motivos,
no final das contas,
nem valem tanto a pena.

O que acontece é que desisti.
Os motivos
quero que você procure.
Não precisa ir muito longe,
porque estão quase todos em você.
Alguns estão em mim,
mas esses você nunca vai conhecer.

Doces

Doces, às vezes fazem bem.
Em exagero,
por muito tempo,
nem tanto.
Mas não necessariamente esse doce.

Podemos ser mais doces.
E, se o somos,
estamos de parabéns.

Posso dizer que, o fato
de te fazeres doce,
é o que me faz gostar de
te ver,
te ouvir,
te ler,
enfim.
Mas não apenas isso,
claro.

Descobrir-te pela doçura que tens,
é o que deveriam todos fazer.
A beleza chama atenção e
a duçura prende.
Mais que prende,
envolve.

És por vezes bem quisto,
porque estás no que lembram
as boas coisas.

E te parabenizo
porque não és apenas.
Mas tens mais
que se imagina.
Teu sorriso
é
um ponto de partida.
E o fato de ser teu
é o ponto
mais importante.
E,
se és doce,
mereces o mundo.

Outro Sonho

Lembrei de você.
Sabe,
não esperava que fosse acontecer tão cedo.

Mas ontem dormi cansado.
Cai na cama como uma pedra.
E sonhei com coisa nenhuma que
fizesse sentido.

Rá!
Sonhei com você,
não fazia realmente sentido.

Acordei sem saber o que tinha acontecido,
mas sinceramente
eu também não queria saber.
Se eu fazia questão?
Nenhuma.

Às vezes é melhor esquecer os sonhos,
determinados sonhos.
É, você entendeu bem.

Você tinha uns sonhos quaisquer que, bem,
eu nunca tive.
Lembrei de você então.
Só pra você saber:
não me fez bem.

Porque agora eu tive um sonho, mas não vou te contar.
E não adianta querer,
porque, com certeza, não vai acontecer.

Antes eu tivesse me atirado do oitavo andar.

Não no sonho.

Manchas

Deram-me algumas receitas de como retirar manchas. Testei uma delas, mas aquela mancha, sinceramente, não parecia querer sair de minha pele. Por mais que lavasse, por mais que fizesse o que achava que precisava fazer, ela não me deixava. Percebi que podia conviver com ela. Até que apareceu outra mancha. E ela parecia competir com a outra. Não tive dúvidas, tentei me livrar da segunda, até porque já havia me acostumado com a primeira. Depois de tanto tentar, consegui me livrar da segunda mancha. Tempo. Não queria mais mancha nenhuma e com muito esforço - porque costume te impede de tentar mudar - me livrei também dessa primeira mancha. E me senti livre, me senti enfim feliz. Outras foram aparecendo de leve, mas eu tinha várias receitas de como me livrar delas. E conseguia me livrar de todas, às vezes uma demorava mais que alguma outras, mas nunca permaneceram por muito tempo. É, mais tempo. Senti falta, nenhum mancha mais queria se aproximar de mim. Não queria costume, queria ser feliz. E sei que algum dia, surgiu de volta aquela segunda mancha. Eu estava feliz com ela. Sempre senti falta e nunca quis acreditar que sentiria. E agora ela estava lá. De volta. E eu também, de volta.

Desfigurar

Não quero que me ouça.
Não quero que me perceba.

Não é revolta,
apenas acontece que já quis ser ouvido e percebido.
Mas agora?
Não.
Agora não tenho motivos de querer isso.

Busca-me por todas as ruas e janelas de ônibus.
Mas eu prefiro que a velocidade seja maior e me desfigure.

Por favor, não me procure.
Se procurar que não me encontre.
Mas se me encontrar,
me avise,
que precisarei desfigurar.

Sua expressão não me parece entender.
É uma pena.
Porque me desfigurarei.
E não sei dizer o quanto você vai sofrer com isso,
mas acredito que não vai.
Inclusive
é sempre assim.

Compreender

Leio,
diversas vezes,
as palavras que costumam perturbar a mente -
a minha mente.

Leio,
mas não entendo.
Não sei porque aparecem de uma forma tão -
como posso dizer? -
enigmática.

Todas as vezes que entendo alguma delas,
aparecem várias outras que não deixam significado nenhum.

E eu continuo.
Leio.
E nada de elas se fazerem entender em minha cabeça.

Sabe,
existem algumas palavras que seduzem,
mas não as compreendo.
Então tento entendê-las o máximo que posso e
o máximo que elas permitem ser entendidas.

Mas se o significado não existe,
não existe razão de continuar a tentativa.

Então continuo lendo.
E quem sabe mais pra frente,
apareça alguma nova palavra que me faça entender
o porquê de essas velhas palavras não quererem ser
lidas.

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