Ele me esqueceu.
Exaltou meia dúzia de palavras e bateu a porta
pra nunca mais voltar.
Tentei ser menos vulnerável,
tentei não correr atrás,
tentei não me jogar no chão,
tentei não me atirar aos seus pés,
tentei não chorar,
tentei não pensar que tudo aquilo havia ganhado um fim,
corri pela sala ainda cheia de seu cheiro,
parei um instante e quis guardar pra sempre esse perfume.
As lágrimas não paravam
e não paravam
e eu não parava.
Atravessei a sala,
corri para o quarto,
ele não estava mais lá.
Quando foi que o perdi desse jeito?, pensei.
Quando foi que deixei isso acontecer?
Um medo,
uma angústia,
uma sensação desconcertante de perda.
Tentei acalmar,
pensar,
desritmar um pouco do coração.
Respirei como sempre,
e só então pude desembaraçar aquele milhão de sensações
e ouvir um choro, um som, um chamado que vinha de minha porta,
que vinha do outro lado do adeus.
E, ao abrir, meu mundo brilhou de alguma forma que não pude perceber,
pois estava fixado naquele rosto,
naquela expressão,
naquele pedido,
naqueles soluços
e num retorno que não pensei possível.
Ao primeiro "sem você não dá mais",
o sorriso inevitável toma conta e leva todo peso
e trás a resposta recíproca.
Sensação de mútuo e livre pertencimento,
os olhos aliviam, os olhos sorriem,
o símbolo de partida cai ao chão
e uma mala mal feita às pressas se abre espalhando tudo
sem que nenhum notasse.
De que importam os detalhes na magia de um abraço,
de um sorriso, de um beijo, de um perdão?
É o momento do tudo de novo,
quantas vezes seja necessário.
Ele não me esqueceu.
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