Divagando e Aprendendo. Ou não!

Sim, Diego tinha todos os motivos pra se sentir feliz. Como ele gostava de seus amigos! E eram muitos. Sempre requisitado, fosse pra uma farra ou uma fossa. Tentava atender a todos, se esforçava pra isso. Aparentemente não tinha problemas sérios. Bom amigo, ouvia seus amigos, viajava com eles, estava sempre cercado de boas companhias. Tudo ia bem, mas um dia Diego teve que ficar sozinho. Todos da família viajando, mas ele ficou em casa por conta da faculdade. Queda de energia, nada pra fazer. Resolveu ouvir música, seu mp3 estava quebrado, ele havia esquecido. Resolveu, então, que iria ler. Passou a tarde lendo um livro e nada de a energia voltar. Foi então que ele deitou na cama, resolveu refletir.Logo começou a lembrar de situações com seus amigos. Algumas tristes, algumas engraçadas. Chorou, sorriu, refletiu. Pensou muito em tudo. Ele estava sempre ali pra seus amigos, era um ótimo ouvinte e também adorava dar conselhos. Mas e quem o ouvia? Ele percebeu que não falava de seus problemas com ninguém. Talvez não se sentisse à vontade pra falar sobre eles, talvez seus amigos não dessem espaço pra isso. Mas o fato de ficar um tempo só fez ele refletir. Ele não iria mudar, mas agora tinha consciência do que era pra aquelas pessoas: apenas um ouvinte de seus problemas.

Acordei e esfreguei os olhos para enxergar melhor. Nada demais havia acontecido. As mesmas paredes azuis, a mesma cama de solteiro que me fazia descansar todo dia, o mesmo guarda-roupa com as roupas ordenadas das mais claras às mais escuras, enfim, tudo como sempre. Levantei-me e tropecei no meu chinelo, mas não caí, como sempre. Fui ao banheiro, escovei meus dentes, tomei um banho e fui ao trabalho. Tudo como sempre: faça isso, faça aquilo. As roupas claras, a gravata, os sapatos, minhas decisões, minhas crenças, todas as coisas de que eu nunca me desfiz. Essa sexta-feira não seria diferente. Saí do trabalho, fui pra casa, precisava dormir. Senti o cansaço tomando conta de mim. Cansaço por dentro, cansaço por fora. Tudo como sempre. Não dava pra continuar assim, era muito tempo perdido, muita coisa sem explicação pra viver na monotonia que eu era e foi na hora de dormir que eu realmente acordei. Acordei pra vida. Acordei pra mim. Daqui pra frente, nada como sempre.

Olhei pra meus pés inchados e imaginei que já tinha caminhado pelo menos umas três horas. Eu pensei em quantas vezes tinha procurado coisas, pessoas, ou seja lá o que fosse e nunca tinha encontrado. Eu tinha essa fama de nunca encontrar o que queria ou precisava. Mas eu não podia desistir porque sabia que um dia eu conseguiria. Mas três horas era muito pra um menino de apenas 13 anos de idade. Resolvi parar por um tempo. Comecei a refletir, eu era um garoto de muitos sonhos, mas não me sentia seguro quanto a eles. Não sabia se me fariam bem. Eu procurava, eu ia atrás deles sempre. Eu corria, eu caminhava, eu fazia de tudo para conseguir tocá-los, mas nunca cheguei a realizar nenhum deles, por menor que fosse. Nunca toquei em nenhum. Eu dormi sob o teto estrelado que aquela linda noite de lua cheia formava. Acordei na manhã do outro dia completamente molhado e pude perceber que a chuva me lavou e carregou de mim para algum rio distante e profundo todos os meus sonhos.