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Leandra ("Visitando" os Pais)

Leandra estava suja e sentia tanta coisa junta que acabava por nada sentir. Passou a tarde toda fugindo de toda aquela situação. Fugindo de seus fantasmas. Depois de muito cansada, encontrou abrigo em uma enorme jabuticabeira. Ela nem teve condições que achar ironia naquilo (Ela não gostava de jabuticabas). Deitou-se e chorou por muito tempo.

Deixou-se lavar profundamente, deixou-se embrigar pelo cheiro daquela árvore e, no momento, em que sentiu mais falta de tudo, abraçou-se a ela e deixou receber um carinho.

Chegou a noite, mas a fome não chegou. A escuridão veio e o cansaço veio junto. Estava lá, embaixo de uma jabuticabeira uma menina de 9 anos que acabava de perder os pais e a alegria que parecia ser uma parte dela.

Leandra acabou por dormir e sonhou, sonhou, sonhou e acordou sonhando que o futuro tinha que reservar alguma coisa boa pra ela.

Acordou com alguém chamando por ela. Era sua avó.

- Graças a Deus. Nós encontramos a menina. Leandra, acorde. Vamos para casa.
- Hã?
- Minha filha, acorde. É a sua avó.
- Vovó? Como a senhora me encontrou?
- Desde que você fugiu, eu estou procurando por você, meu bem. Agora vamos.
- Tá bem, vamos. Mas eu quero ir no lugar onde deixaram painho e mainha.
- Minha filha, você não devia...
- Vovó. Me leve lá, por favor.
- Está bem.

As duas entraram no táxi e Leandra foi todo o caminho abraçada na sua avó. Chegando ao cemitério, foram até o local. Dona Dina olhou para a neta, deu-lhe um beijo no rosto e se afastou por uns instantes. Leandra, passando a mão nos túmulos de seus pais, começou a falar:

- Vocês não cumpriram a promessa. Me disseram que não iriam morrer nunca, mas deixaram que acontecesse. Painho, eu te disse pra não ir. Eu te disse. Eu só não sei como é que eu vou conseguir viver agora sem vocês. Sem mainha indo me acordar todo dia e me levando pra escola. Sem você me dando um beijo de bom dia e me desejando "boa aula". Sem mainha dizendo que eu tô atrasada e que tenho que deixar de ser tão... tão... nem lembro mais como é a palavra. Painho, você ia me levar pra pescar. Mainha me ajudava a arrumar os cabelos. Me dizia que eu tava linda e que eu era uma princesa. Vocês me faziam sentir a criança mais feliz do mundo todo. Vocês me faziam saber que eu era importante. Liam histórias pra mim. Passeavam comigo todo domingo. Me levavam no cinema, no teatro, no parque. Sempre iam assistir minhas peças na escola. Nunca me fizeram um mal. Mesmo brigando comigo às vezes, você nunca me bateram. Vocês nunca me fizeram sentir uma menina ruim e chata. Tudo isso porque vocês me amavam, tudo isso porque eu era importante na vida de vocês. E eu, agora aqui sozinha, ainda amo vocês. Só que agora a gente não vai ser ver nunca mais. A gente nunca mais vai poder conversar. Quem é que vai me ajudar com as tarefas de casa? Quem é que vai me fazer carinho quando eu tiver triste? Quem é que vai me abraçar toda vez que eu chegar feliz em casa com uma nota alta ou vai me consolar quando eu chegar com uma nota baixa? Quem é que vai me dizer pra não comer tanto doce? Quem é que eu vou apresentar pra minhas amigas, toda orgulhosa, e dizer "Esse é o meu pai e essa é a minha mãe"? Eu não tenho mais ninguém. Painho, mainha... Eu vou perdoar vocês, porque eu sei que a culpa não foi de vocês. Mas eu quero que vocês apareçam sempre nos meus sonhos, porque eu não quero nem pensar em esquecer vocês. Eu tô muito triste. Eu não sou mais aquela menina tão alegre. Eu não sou mesmo. E também não sei se eu vou voltar a ser feliz de novo. Vou levar vocês no meu coração pro resto da minha vida. Pro resto da minha vida. Eu queria que vocês fossem meus anjos da guarda. Fala com Deus, pede pra ser. Porque eu vou sentir que vocês estão sempre pertinho de mim. Eu vou sentir muita falta.
- Leandra, vamos embora?
- Agora eu vou, vovó tá chamando. Eu espero que vocês pensem em mim. Eu juro que volto aqui pra visitar vocês. Eu amo vocês. Amo mais do que tudo na vida. Tchau painho, tchau mainha. Até logo.

Leandra saiu a passos lentos e curtos, cabeça baixa e um monte de coisa pra enfrentar. Voltou pra casa da sua avó e não falou mais nada. Estava triste, mas nunca iria esquecer que, na noite anterior, aquela jabuticabeira guardou e velou suas tristezas.

5 comentários:

Que triste!
Perder pessoas que amamos é tão difícil....um dia o coração cicatriza, mas fica marcado pra sempre pela saudd!

Bjs!

23 de agosto de 2008 às 12:38  

Triste, não me vejo sem minha mãe, principalmente ela. Avê...

Vixi rapaz, Vanessinha da Mata, é bom demais! Concordo o album dela 'SIM' tá muito bom, suave, exatamente como ela.

abras meu véi! =)

23 de agosto de 2008 às 22:09  

Confesso que meu coração apertou ao ler o pranto de Leandra.
Eu não passei por isso, graças a Deus. Papai, sim, me deixou, mas eu já era "velho". Mamãe continua comigo.
Também não acho justo que uma criança fique sozinha. Mas, se Deus assim quis, Ele sabe bem o que faz.

24 de agosto de 2008 às 22:21  

Que triste.
Graças a Deus ainda tenho os dois ao meu lado.
Nem penso que um dia eles podem não estar mais aqui.

Texto muito bem escrito.
É um dom.

25 de agosto de 2008 às 20:14  

coitada da menina!!
gostei muito da história, mas é como eu tinha dito: acho que ela parece um adulto falando!
huehuehuehuehuheuhu
kids repetem muito as mesmas palavras, se embolam no que dizem!!
mas a história magoou!
:(

27 de agosto de 2008 às 19:51  

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