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Tecidos e Retalhos

Eu não deveria
pensar nas vezes
que lilás te desfizeste de mim
e me deixaste em prantos e
pretos e brancos.

Por que cores?
Por que leves tecidos me dizes?
Se sempre vais e
me deixas em lona
pesada e sufocante?

Corre por teus dedos
o meu sangue vindo
do ponto errado que destes nessa costura.
Porque não soubestes refletir e ver
que certos remendos não se fazem.
E não são necessários,
já que vão estragar tudo outra vez.

Não penso nos dias que
me destes seda como prazer.
Penso em quando me destes
o pior jeans pra refletir.

Sabias que não sou
a favor de certas peles,
mas até a minha tirastes e me deixastes sangrando.
Sangrando sem imaginar.
Sangrando sem refletir.
E manchei todo o chão.
Não que fosse imaculado,
mas não era merecedor de
tantos retalhos descombinantes
e vergonhosos.

Sim, estive em retalhos
e não pensastes que isso poderia ter acontecido.
Hoje, eu não pretendo que fiques mal.
Só quero que saibas,
que os retalhos me foram costurados
com dor.
E que sou vitorioso,
porque jamais alcançarás
ou retirarás de mim
um retalho que seja.

Os Ursinhos de Pelúcia

Estava só no seu quarto. Lembrou dos seus ursos de pelúcia. Sentiu saudades. Sua idade não permitia que os mantesse. Não para os outros, mas dentro dele tinha todos em perfeita ordem e perfeitas recordações. Suas preocupações agora eram todas tão diferentes. Era preciso agradar tanta gente pra continuar sobrevivendo. E tudo, no final das contas, não fazia sentido. Um dia esqueceu até de colocar suas músicas favoritas. Pobre rapaz, sonhou com tanto, quis tanto e agora nada mais restava do que vontade e frustração. Pensou em pular, pensou em gritar, mas não pensou num jeito de tentar esquecer. Mas de que adianta esquecer, se certamente todas as perguntas voltariam a martelar uma hora ou outra? Ele talvez não estivesse pronto, mas ele se sentia pronto. Seu maior defeito talvez seja o de ser tão transparente que acaba afastando as pessoas e não saber o que fazer. Às vezes ele pensa em mudar, mas sabe que por mais que se queira, tem mudanças que não se consegue realizar. E mais uma vez sentiu falta dos seus ursos de pelúcia. "Eram os tempos em que certas coisas não me preocupavam." E ele estava certo. Depois desse tempo, não dava pra negar que certos momentos deveriam se encarados. E força é tudo de que ele precisava. Até que sentiu que apenas as suas não eram suficiente. Passou por momentos difíceis, mas ele acredita que superou todos. Ele luta contra esses momentos, mas é inevitável refletir. E às vezes, ele pensa demais. Sua cabeça dói, mas a esperança não passa. E os ursinhos de pelúcia fazem parte de suas boas lembranças, porque sem elas ele é incapaz de continuar.

Beleza Tua

Que bom te ver sorrir.
Que bom apenas te ver.
Sem expressões.
Com expressões.

E tudo que fazes
me faz querer mais e mais
te ver.
Teus modos, teus jeitos, tuas implicâncias
e tuas manias.

Como é bom te ver e saber que estás
em algum lugar.
Como não é bom saber que estás
longe.

Podes te sentir horrível,
amassado,
ou seja lá o que queiras.
Prendes em ti todas as minhas atenções
por seres justinho assim.

Seja assim.
Seja amassado.
Seja horrível.
Que pra mim nada mais és do que
várias
grandes
doses entorpecentes
de beleza.

Da Possível Perfeição

Não sei és de fato perfeito.
Mas de fato és perfeito pra mim.

Não sei se dizes coisas bobas pra me arrancar sorrisos.
Mas posso sorrir só em te ver,
nem que seja só em fotografias.

És de fato um pedaço de beleza que
antes nunca existiu.

És de pesos e medidas diretamente proporcionais
ao que eu preciso,
ao que eu precise.

Não sei se sou perfeito de fato.
Na realidade
sei que não sou.

Mas se me falta a perfeição,
é que preciso do que estás guardando
pra me completar.

No fim das contas,
uso desculpas de perfeição
pra dizer que não há nada mais perfeito pra mim
do que o teu sorriso
que me faz perfeitamente sorrir
e ser perfeitamente feliz.

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